No 51º aniversário do campeonato mais tradicional do planeta, o título ficou (pela segunda vez) nas mãos do Bicampeão mundial Mick Fanning, que venceu o careca sanguinolento na final, mesmo com este último de posse de uma nota 10, após mais um de seus "muito+altos+aereos+reverses+sem+mãos+na+borda" voltando literalmente no zero.
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Os finalistas. Mick & KS. Foto: © ASP / Robertson. |
O campeonato ficou longe da qualidade de onda prometida pelas sempre otimistas previsões dos patrocinadores e decepcionou muita gente, já que ficou muito abaixo da qualidade de onda apresentada no ano passado. Mas num evento de CT, o que salva sempre é a qualidade do surf apresentado.
A transmissão em Português foi horrenda, com muitos, mas muitos mesmo, reclamando das sandices ditas na cabine de transmissão. Eu não consegui ouvir mais do que 5 minutos em PT, por isso não tecerei maiores comentários.
Os brasileiros infelizmente não foram tão bem quanto o esperado, mas mesmo nas derrotas o nível de surf tupiniquim manteve-se no altíssimo nível de qualidade estabelecido em 2011.
Inclusive, para os imediatistas de plantão, é sempre bom lembrar que antes de Bruninho dos Santos em 2008, amargamos 6 longos anos de jejum em eventos do CT e não será sempre que teremos um verde amarelo no pódium.
Acho até que já mudamos bastante o estigma e a síndrome de vira lata que por anos perseguiu os surfistas destas bandas. Já esta na mente de todos, inclusive dos juizes, que os atletas brasileiros podem bater qualquer um e apesar de alguns garfos o julgamento esta longe de ser tendencioso, patrioticamente falando.
O alvo dos erros arbitrais desta vez recaiu nos jovens. Pupo e Andino sentiram na pele que antiguidade é posto na ASP e mesmo vencendo na agua, perderam nas papeletas.
BRASILEIROS
Fiz questão de rever todas as baterias dos brasileiros antes de publicar este breve relato, que estava pronto desde o dia da final, mas como teve a festa dos polacos (post anterior) e eu queria fazer esta revisitação as baterias segurei a publicação até hoje.
Alejo Muniz - Não sei ao certo o porque, mas o pessoal que adorava o Alejo ano passado, quando quebrava tudo e todos rumo ao top 10 do mundo, este ano, na segunda derrota, já decreta seu encerramento de carreira, que desaprendeu, que tem que evoluir, que isso e que aquilo...pera lá, né gente? Será que é porque ele é Argentino? O moleque esta machucado desde o Pipemasters e vem tentando se recuperar desde então. Repeti em mais de um fórum que as vezes a mente, a confiança, demora mais que o músculo para se recuperar. Além de que, pelo que foi declarado pelo próprio atleta via twitter, o mesmo fazia sessões intensivas de fisioterapia até pouco antes do embarque para Victória. Ou seja, esta longe de estar no rip de 2011. Acho que há muito chão para decretarmos qualquer coisa em 2012, mas é certo que a performance do catarina argentino será inferior a do ano de estréia. Perdeu para Yadin Nicoll por não achar as ondas, apesar da nota overscorada de seu adversário. Mas não vi seu surf descer de nível como muitos acharam. Ele tem que evoluir é a recuperação da lesão.
Heitor Alves - Também esta retornando de lesão, mas acho que esta num estado de recuperação mais evoluído que Alejo. Perdeu para Jadson pela escolha de ondas, em absoluto pelo surf apresentado, vide primeira manobra do cearense na primeira onda desta bateria. Deve evoluir naturalmente no ranking após o Brasil e algumas canhotas.
Miguel Pupo - O jovem Pupo foi garfado. Isso é um fato. Ele virou na última onda contra CJ, com um belo aéreo de manobra inicial e finalizando legal, merecia a nota da virada e os juizes não deram porque não quiseram eliminar um campeão mundial tão cedo no evento. Agora é inevitável analisar que Miguelito cometeu ao menos três erros graves no decorrer de sua bateria. Num mar com séries demoradas, cair na segunda manobra de uma onda com tamanho foi fatal, o mesmo eu diria para as quedas na finalização de duas ondas razoáveis, cujos décimos poderiam decidir o heat a seu favor, independente da decisão arbitral. Falta só a sintonia fina. Pupo ainda nos dará muitas alegrias em 2012. Podem anotar.
Jadson André - É impressionante como um surfista pode fazer uma manobra tão bem e outra tão mal. Jadson enquanto de costas para a onda, consegue bater tão bem quanto qualquer outro, indo sempre na orelha das benditas, com pressão, e muitas vezes colocando a prancha em ângulos pouco aconselhados pelos médicos ortopedistas, contudo, quando é para rasgar, ou dar qualquer manobra de borda o potiguar simplesmente não consegue a mesma eficiência. Parece que ele sempre opta por rasgar no meio da parede, raramente chegando ao lip, tornando a manobra plasticamente feia e ineficiente. Mesmo tendo uma das melhores batidas e floaters do negócio quando se trata de backside, Jadson tem facilmente o arsenal mais fraco de costas para a onda do Tour. Evoluir é necessário. Fez uma bateria brilhante contra o Cearense Voador, mas errou feio na sua bateria da terceira fase contra Owen ao ser tão seletivo. Pegou 2 ondas durante a bateria toda e quando pegou sua segunda onda, caiu na primeira manobra e o australiano magrelo veio na detrás marcando a maior nota do heat. Mesmo com o gringo sendo overscorado (5 e bordoada com 1 batida foi sacanagem) Jadson precisava de pouco no final, mas as séries não vieram...Boa aposta no RJ.
Raoni Monteiro - Perder para o campeão é sempre melhor, ou menos pior. Pois Raoni não só perdeu apenas para o campeão, como perdeu por pouco, dando um belo susto no Mick "Babuino Albino" Fanning. Bateria para rever. Aula de como surfar Bells médio e perfeito. Arrisco dizer que cometeu alguns dos erros de Pupo. Logo após a primeira nota 9 do adversário, na melhor série da bateria, Raoni caiu logo na primeira manobra. Considerando que na onda seguinte o local de Itaúna fez um 9,20 numa onda menor e com menos potencial, fico imaginando o que não seria da bateria caso não ocorresse a queda que mencionei. Pecado mesmo é um atleta do nível de Raoni ter que buscar no próprio bolso recursos para correr o Mundial. Acho que a Abrasp podia criar um relacionamento mais estreito com órgãos governamentais para no futuro subsidiar atletas de nível mundial que por acaso fiquem sem patrocínio. Atletas olímpicos tem este tipo de apoio e todos nós sabemos que não há falta de grana, basta o pessoal roubar menos...
Gabriel Medina - Ele próprio resumiu bem seu erro nas redes sociais, ao se xingar de Burro. Não diria que foi burrice, mas excesso de respeito, ou imaturidade, o que seja, fato é que bastava Gabriel, de posse da prioridade remar na frente de CJ na última onda e veríamos Medina muito mais a frente no ranking. Afirmo que Gabriel perdeu a bateria para CJ, mas CJ não venceu. Pois surf por surf, o local de Maresias mostrou muito mais que o floridiano compeão mundial de 2001. A fúria nos olhos do garoto após a derrota denota como sua gana de vencer continua intacta e este período de vacas magras era esperado por todos, menos por ele, o que entendo ser um belíssimo sinal de amadurecimento. Medina vai levantar muitas sobrancelhas em 2012...vai vendo.
Adriano de Souza - O vice-líder do Mundial de Surf de 2012 perdeu a chance de liderar o certame ao trocar de tática em sua bateria contra Josh Kerr. Os juízes estavam valorizando o surf de manobras bem definidas e a bela linha adotada pelo Guarujaense em Bells (vide primeira onda de Mineiro e Kerr nesta bateria). Mas ao ver que também soltavam notas para os aéreos estratosféricos do australiano (mesmo em ondas mais curtas, não obstante estarmos em Bells, mas vai entender...) resolveu arriscar e se deu mal (parafraseando meu amigo blogueiro Trombonera do
trombonedevara) . Devia ter se mantido firme às suas convicções em especial ao surf que vinha dando muito certo no campeonato até ali. De qualquer sorte Mineiro sai da Austrália em posição ainda melhor do que a de 2011 e defenderá seu título da etapa brasileira do mundial com unhas e dentes até porque se gamou no gostinho da liderança do CT e certamente quer mais...se cuida Careca...sua batata esta assando.
FINAIS
Nenhuma surpresa na primeira semi final, com o KS eliminando seu companheiro de equipe Jeremy Flores (alguém viu a cutucada do Mimi no KS via twitter, após ver o careca pegar carona no Jet para trocar de bóia, o francês não perdoou e falou "eu tive que sair nadando, mudaram as regras?"), aliás, surpresa mesmo foi o francês ter chegado até aqui. Deu uma sorte danada na bateria de JJ. Quem disse que vencer o Pipemasters não gera frutos eternos? Na minha opinião a sensação havaiana virou na última onda, mas os critérios estavam rígidos e estabelecidos, Jeremy é mais antigo no tour e na dúvida fica o mais velho. Tipo a nossa CBF, saca?
Agora a segunda semi final foi uma batalha de titãs onde qualquer um podia sair o vencedor. Amigos de infância e competidores ferrenhos, havia muito mais do que um lugar na final em jogo ali. E ambos deram a vida em cada manobra. Só que o dia era de Mick e ninguém venceria ele antes da final.
A final, para muitos foi espetacular, eu não achei tudo isso, mas foi incrível ver o careca sanguinolento perder uma bateria mesmo com um 10 no bolso. Já falamos deste 10...
Mick, em minha opinião tem um dos estilos mais legais de se observar, além de atacar as ondas com uma vontade e força igualável por poucos no circuito atual. Talvez Kong e Rosa atacassem as ondas com mais fúria, mas nenhum dos dois tem o estilo do babuíno albino, tão pouco os títulos mundiais do malandro.
O jeito de rasgar a onda de Parko, por exemplo, é muito mais estiloso, mais clássico. Mick é mais bruto, cru talvez, começando a rasgar antes mesmo de chegar ao lip, como se quisesse impedi-lo de quebrar. Numa onda como Bells, isso conta muito. Pensando agora, Mick merecia em seu cv uma vitória em Sunset.
Enquanto escrevia essas mal traçadas linhas lembrei-me de uma análise dos top 44 da Fluir, onde compararam o careca sanguinolento a Superman e AI a Lex Luthor. Pois penso ao contrário, até porque sou fã de HQ e sei que os vilões, muitas vezes aos olhos do público geral, são grandes heróis, enquanto os verdadeiros salvadores da pátria são párias da sociedade.
Pois acho que a careca do KS revela mais do que parece, a apesar da carinha de bom moço ali de bom mesmo só tem o surf e todos os outros top 32 são os "heróis" tentando "livrar" o mundo do surf das garras do maldito sanguinolento. Obviamente que isto é uma brincadeira, até porque poucos (nenhum?) surfistas foram tão salutares para o esporte quanto Robert Kelly Slater.
Na final viu-se duas táticas bem distintas, KS pouco seletivo e Fanning calmo e escolhendo muito bem suas ondas. KS caiu demais na final, eu diria. Mas não foi por isso que perdeu. Acho que sua onda logo após a nota 10 foi mal jugada e ali ele já viraria a bateria. Mas não seria justo pelo que Mick apresentou não só na final, mas como em todo o evento. E acho ainda que não seria justo com a onda. Presentear o campeão com o título após uma única manobra, sendo que a onda oferece ao menos 300 metros de pista para as mais diversas manobras e uma onda com 3 ou 4 delas é considerada curta.
Não discuto o 10 do careca, até porque o Mick também foi overscorado na sua primeira onda. Mas gostaria de colocar na mesa a seguinte questão. Sem dúvida, esses aéreos do KS em finalizações são impressionantes. Mas não se pode negar que o careca os tem repetido, utilizado a vera para sair de situações complicadas em heats (mesmo na final, antes de acertar, errou um).
Pergunto, se o camarada começa a repetir muito a mesma manobra ele é penalizado com diminuição das notas, não é? Bom, os aéreos do careca são excelentes, fato, mas os do Jadson também o são e perdem muito mais nota que o careca.
Isso sem falar que a bem da verdade KS se jogou do lip em direção a base da onda, "voando" de verdade, poucos centímetros acima da onda e alguns metros para frente dela, apesar dele ter achado que foi um dos mais altos de sua carreira, comentário que me levou as gargalhadas.
Vejam bem, não estou dizendo que ele não voou alto, voou sim. Mas não para CIMA da onda, mas para baixo, do lip a base, como disse. O do Pupo de backside foi mais alto, analisando a prancha SOBRE O LIP, por exemplo, mas o do careca foi muito mais plástico, daí o 10, imagino.
Vitória merecida de Mick.
Acho que era isso. E que venha o Rio.