E o sanguinolento fez de novo. Esnobou uma etapa e chegou para vencer a seguinte.
Robert Kelly Slater levantou seu 49º título em etapas do WCT na quarta parada do circuito mundial de 2012, nas paradisíacas Ilhas Fiji, vencendo o Volcom Fiji Pro, e se colocando na vice-liderança da corrida ao título com Mick Fanning, atual líder, na sua mira de tiro, ou alguém duvida que o careca assuma a liderança já na próxima parada do tour no Tahiti? Eu não.
Disse no título, que o careca estava em dia de careca. Realmente o malandro abusou de toda a experiência adquirida em anos de visitas a Cloudbreak e Restaurants para comandar o campeonato ao seu bel prazer, dizem até que que o diretor de prova paralisava o evento conforme as sugestões do nativo de Cocoa Beach (é ou não é um sanguinolento?).
Aliás, não sei se eu é que sou meio chato e queria ver a galera dando o sangue, ou realmente havia uma questão de segurança a ser resolvida ali, mas me decepcionei um pouco com a paralisação do evento no dia grande, logo após a demonstração de heroísmo de Raoni Monteiro, no momento mais insano da temporada até aqui.
Estou enganado, ou foi durante aquele mesmo dia que Kohl Christensen e Ramon Navarro fizeram aqueles tubos épicos, gigantes e longos em Cloudbreak? Será que nunca mais teremos eventos da elite em condições verdadeiramente desafiadoras? Nunca mais haverá um Billa Pro 85 (Sunset/Waimea)? Um Mormaii 88 (Silveira - SC)? Entre vários outros eventos épicos que fazem parte da história do surf mundial.
Nem queria me alongar muito nisso, mas sempre vem à mente a história do "se". Se o evento continuasse naquelas condições gigantes será que Fred P perdia mesmo para o sanguinolento? Será que Saca perderia para Fanning? Kai perderia para Mineiro? Mich perderia para Joel? Nunca saberemos, mas não é difícil imaginar o embolo no ranking que aquela decisão de paralisação evitou. Não sei vocês, mas senti como se a história deixasse de ser escrita naquele momento. (exagerado, né?...rsrs)
De qualquer sorte, o tamanho do show proporcionado pelo careca, em especial durante a semi final contra seu conterrâneo e campeão mundial de 2001, CJ Hobgood, foi algo para se pensar. Não concordei com todas as notas, mas no geral, não havia como barrar um cara que ignorava as ondas subindo reto com uma prancha mínima num mar que podemos considerar como "de consequencia", contra um adversário muito perigoso em esquerdas tubulares. Parafraseando o grande Nelson Rodrigues, que falava que para o craque a bola era apenas um detalhe, para caras como o careca a onda é apenas um detalhe (para Medina e JJ também, assim como era para AI).
Só não digo que o careca foi absoluto em Fiji porque na final fiquei com a impressão que o mar ajudou o floridiano. A primeira vitória de KS sobre o Medal, em baterias homem a homem foi definida logo no inicio, já que do meio para o final da batera o mar simplesmente parou de bombar e Gabriel de posse e uma onda boa, precisava de um 9 alto para a virada, nota nada impossível, considerando as condições do mar e o histórico do atleta neste mesmo evento.
Arrisco dizer que a bateria final foi o heat que o careca sanguinolento mais levou a sério em anos. Ele não admitiria sair novamente com 1 derrota contra o Golden Kid de Maresias. KS levou, mas ficou aquele gostinho de que recebeu ajuda divina. Isso se deve sobre tudo a performance do brasileiro durante o evento. Apesar de concordar com a opinião de Fabrício Andrade, via twitter, que procurou e não achou outra onda pontuada acima dos 8 pontos por 3 batidas, indo até mais fundo, já que achei a segunda nota do sanguinolento durante a semi deveras overscorada, o que acabou fechando o caixão de CJ, ainda mais com este tendo uma nota achatada no final da bateria.
Gabriel Medina era o cara a ser batido no campeonato, aliás se havia alguma dúvida sobre ele em ondas de verdade, elas se acabaram por completo. Venho falando faz tempo que o menino é local de uma das melhores ondas de nossa costa, onde aprendeu a entubar como poucos.
Quando um moleque de 19 anos surpreende ao PERDER para um bi campeão mundial, é porque algo mudou no mundo. JJ era franco favorito a vencer sua bateria contra Fanning e me surpreendeu ao perder. Medina e JJ causaram isso na bolsa de apostas, mesmo sendo infinitamente menos experientes. É com essa pressão que esses moleques chegaram ao tour.
De fato, há algo de muito diferente nesta troca de guarda do circuito mundial. Vi quando surgiram para o mundo, KS, Knox, Dorian, Willians, Hering e Powell, depois, vi quando chegaram AI, Cory, Neco, Wills e Campbell. Tirando a constante careca, nenhum outro, nem mesmo AI conseguiu chegar alterando o favoritismo de uma bateria, ainda mais contra monstros consagrados com um ou mais títulos mundiais.
BRASILEIROS
Willian Cardoso - Panda não conseguiu aproveitar adequadamente a oportunidade. Ja havia treinado nos locais do evento antes, mas isso não quer dizer nada se durante os 30 minutos de bateria não consegue achar uma boa. Pode muito bem "ter" que participar da etapa tahitiana, se fosse ele passaria esse mês de junho todo em algum lugar da Indo treinando, só para prevenir...
Raoni Monteiro - Daqui a 10 anos poucos lembrarão quem venceu esta etapa, quem arrancou nota 10 dos juízes, mas com certeza lembrarão do tubo em que o brasileiro se jogou em Cloudbreak. Heroi. Merece mais que um patrocínio, merece uma medalha da Dilma e uma estátua na Praça XV, no centro do Rio de Janeiro. Sem mais.
Alejo Muniz - Surfou bem na primeira fase, comprovando ser um dos fulanos mais perigosos do tour em baterias de 3 atletas, mas pouco pode fazer contra Medina em Restaurants. Teria mais chance se não tivessem paralisado o evento e ele tivesse chance de se jogar em Cloudbreak grande, como fez em Sunset 2010 e Chopes 2011. O 5º lugar aqui no Rio fez maravilhas para a auto estima do catarinense. Deverá ser mais regular no circuito após o Tahiti.
Miguel Pupo - Travou um belo duelo com o vencedor do Prime de Saquarema 2012, Matt Wilko e se não foi tão longe no evento quanto gostaríamos, mostrou porque venceu em Noronha e porque se jogou em Pipe 2011 mesmo lesionado. Não basta entubar, tem que entubar com estilo. Alberto Adler já decretou, "sem estilo, tu é um merda...". Olho nele em Teahupoo, e tenho dito!
Heitor Alves - Competiu muito bem em Fiji. Passou pelo Pipemasters Frances na terceira fase, na melhor apresentação do cearense neste ano, em minha opinião. Mas a partir dali, quando a brincadeira ficou séria mesmo, pouco conseguiu mostrar para abocanhar um resultado melhor. Merece melhor sorte no Tahiti.
Adriano de Souza - Mineiro é um dos "picas" do circuito. Fato. Mostra isso a cada remada, a cada onda surfada em cada bateria. Recebe de volta um respeito de seus adversários que poucas vezes vimos num surfista tupiniquim. Fia, Neco e Peterson talvez tenham tido este tipo de respeito dos adversários. Da orgulho termos um top 5 com cara e atitude de top 5! Concorrente ao título que mais mexe com a cabeça do sanguinolento, se arrancar outro bom resultado no Tahiti pode pegar a fase fundo de areia do circuito numa excelente posição para tirar o doce da boca do careca...
Gabriel Medina - O que falar desse moleque?!?! Após a decepcionante participação no WCT RJ, quando perdeu com o auxilio da direção de prova, Medina estava precisando mostrar para si mesmo que as vitórias do ano passado não foram algo anormal, ao contrário. Sua participação na final não foi nada além de consequencia. Desde o inicio percebia-se que em verdade quem os gringos queriam ver (bem ou mal) neste evento era o Freak Medina. Missão recebida é missão cumprida não é mesmo? Gabriel não decepcionou sua já imensa legião de fãs espalhados pelo globo. O seu primeiro 10 quase custou o emprego do camera man que não levou fé que o brasileiro sairia do tubo e desistiu de filmar a onda...se deu mal, porque o moleque não só saiu limpo como ainda desferiu duas manobras antes de encerrar o serviço na dita cuja. E o show só estava começando. KS, por mais que ele mesmo não queira admitir, terá que por um fim em sua vitoriosa carreira, mas deixará o circuito em mãos mais jovens e tão promissoras quanto ele.
AGREGADO
Tiago Saca Pires - Tiago não deu sorte nas horas em que suas baterias foram para a agua. Surfou bem na primeira fase, mas não conseguiu barrar a empolgação do Boneco de Olinda Australiano, mais conhecido como Owen Wright. Depois passou justo por Kolohe Andino (quando o americano deu o chilique do ano até aqui) na segunda fase, sendo derrotado em seguida por Mick Fanning numa hora estranha do mar. O próprio Fanning só conseguiu uma boa. O problema foi que o português não conseguiu nenhuma. Saca seria uma aposta natural se a direção de prova optasse por colocar os tops na agua no maior dia. Talvez tenha a chance de se vingar em Chopes.
GRINGOS
JJ até perder de modo surpreendente para Fanning vinha mostrando algo que somente o sanguinolento e Medinha vinham mostrando. O que foi o retorno daquele floater em Restaurants? De layback malandro...qué isso? não sabe brincar não brinca....
Owen surfou muito em Restaurants, mas os destaques gringos para mim ficam para os 3 malucos, que junto com Raoni, caíram no dia grande. Kai, Bede e Adam subiram no meu conceito. E nenhum deles fez um tubo como o de Raoni...
Mais informações e debates na Mesa Surfocrática Fiji que deve rolar em duas frentes (RJ e SP) na semana que vem, entre 18 e 22/06. O dia certo eu comunico aqui, no Face, twitter e em sinais de fumaça branca... ALOHA.
Resultado do Volcom Fiji Pro 2012
5 John John Florence (Haw)
Top 22 do ASP World Tour depois de 4 etapas
1 Mick Fanning (Aus) – 24.750 pontos
2 Kelly Slater (EUA) – 23.700
2 Joel Parkinson (Aus) – 23.700
4 Adriano de Souza (Bra) – 22.400
5 Taj Burrow (Aus) – 20.950
5 John John Florence (Haw) – 20.950
7 Josh Kerr (Aus) – 19.950
8 Jordy Smith (Afr) – 17.450
9 Owen Wright (Aus) – 16.150
10 Julian Wilson (Aus) – 14.900
11 Jeremy Flores (Fra) – 14.000
12 C. J. Hobgood (EUA) – 12.750
13 Gabriel Medina (Bra) – 10.750
14 Heitor Alves (Bra) – 10.250
15 Adrian Buchan (Aus) – 9.200
15 Tiago Pires (Por) – 9.200
17 Michel Bourez (Tah) – 9.000
18 Brett Simpson (EUA) – 8.000
18 Miguel Pupo (Bra) – 8.000
20 Alejo Muniz (Bra) – 7.950
20 Kai Otton (Aus) – 7.950
22 Bede Durbidge (Aus) – 7.000
26 Raoni Monteiro (Bra) – 4.500 pontos
32 Jadson André (Bra) – 3.250
36 Willian Cardoso (Bra) – 1.000
Fonte Resultados/Ranking:
WAVES