Permitam-me divagar um pouco aqui...
Alguém já parou para pensar e calcular o quanto vale o esporte? Mesmo que em números aproximados. Deve haver algum meio de se mensurar o quanto vale o espaço de determinado patrocinador nas praias, ruas, revistas e páginas de internet de um campeonato de surf (que, em tese, devem ter os direitos vinculados à ASP) comparando com o tamanho da exposição daquela propaganda (em número aproximado de pessoas alcançadas).
Comparado a outros esportes o Surf é extremamente barato, ainda mais, como disse, se comparado à exposição que consegue e as estrelas mundiais que possui. Paga o licenciamento aos órgãos públicos com certeza, como qualquer outro esporte, mas não tem que alugar o local do evento. O automobilismo paga o licenciamento aos órgãos públicos para poder promover e realizar o evento além da locação do autódromo, por exemplo.
Dito isso, caso se aproxime da realidade, mesmo que remotamente, me pergunto se a ASP detém realmente os direitos aqui discutidos, e se realmente é ela quem “vende” o produto surf, já que contratos são feitos para determinar os direitos e deveres de cada parte, mas também são utilizados para aumentar os deveres de uma parte em favor de outra, basta alguém estar desatento no momento da assinatura do termo.
Já imaginou se tivéssemos que pagar para surfar? E se o preço variasse com a qualidade da onda? danou-se. Foto: twitter do Ace Buchan |
Se for realmente a ASP a detentora desses direitos e “dona” do circuito mundial, tenho uma curiosidade tremenda em saber como estão sendo feitos os contatos para que novas praças recebam o circuito mundial, se é que isto esta sendo feito.
Gostaria muito de saber como foram as primeiras reuniões entre os dirigentes da ASP e os governantes/dirigentes Chineses, por exemplo.
Um encontro de tamanha magnitude deve ter sido precedido de profundo estudo e preparação. Mais de uma década se passou desde a constatação de que a grana iria para a ASIA. Abocanhar este mercado é meta principal de todo o ocidente.
Fazer com que um esporte "novo", plástico, saudável, cheio de estrelas boa pinta, caia no gosto de um mercado de gigantes como a China, Taiwan, Coréia e afins é a galinha de ouro de um esporte amador, até hoje baseado em 3 pilares, dos quais um está quebrado (Billa), outro rachando (quick) e um inquieto (Rip Curl)...ou a ASP não sabia das pernas bambas de suas históricas parceiras?
Se não sabia, resta comprovada a tese (de Ader Oliveira via twitter) de que a ASP ficou muito tempo acomodada enquanto as 3 gigantes da surfwear tocavam o mundial, com um auxilio ou outro de marcas de fora, como Ford, Coke, Land Roover, etc... E é por isso que me pergunto como é que foram estes primeiros encontros com os orientais que acabaram culminando com a realização de um histórico evento conjunto ISA/ASP (que cá pra nós não foi lá essas coisas não, especialmente no quesito divulgação e produção, até agora pouquíssimos vídeos sobre o campeonato e ondas da região foram publicados).
A grana foi para o Oriente. As ondas já estavam lá. foto: rockstarsurfing.com |
Acredito muito que a salvação financeira do surf está em eventos nos países emergentes, onde incluo o Brasil, que com a economia aquecida e uma boa negociação pode sim bancar 2 WT, especialmente em épocas de COPA e OLIMPÍADA. O Estado, ou seja, NÓS estamos bancando esta festa toda, com certeza, esportes com dirigentes mais malandros, mesmo que não-olímpicos, já estão com um ou dois dossiês prontos para serem apresentados ao Ministério dos Esportes para tentar abocanhar uma fatia, mesmo que mínima, da festa da grana "esportiva". Isso que nem sugeri trocarem uma idéia com o Eike Batista...
E vejam a sorte do esporte, dos países emergentes, quase todos tem onda e/ou algum pico com qualidade suficiente para que aqueles revoltosos do Dream Tour não tenham tanto do que reclamar. Adoraria que a Indonésia fosse um potencia mundial de braços abertos e bolsos cheios para nos receber, mas não é...
Vendo o símbolo da NIKE nas pranchas dos caras, vejo em como os dirigentes da ASP podiam vender melhor o produto surf, em como Adidas, Reebook e outras tantas, para ficar apenas em marcas esportivas, poderiam estar há tempos no dia a dia do surf.
Enquanto a Billa esta indo a falência, ela tenta bancar 4 WT (inclusive o do Brasil, que acredito que só esteja garantido pelo dinheiro público, porque o da Billa acabou) a maior empresa de artigos esportivos do mundo (Nike) bancará em parceria com outra marca um Prime e através da Hurley deve ajudar no WT Trestles e só. Deve ser dos investimentos mais lucrativos da marca.
E a ASP deixou uma marca deste tamanho simplesmente entrar no mercado, ganhar dinheiro com ele e com a estrutura e fãs montados anteriormente? Pelo visto sim...
empresas de fora do surf já beliscaram um pouco o esporte foto: lendasdosurf.blogspot.com |
Agora, com o anuncio do cancelamento do WT JBAY (rebaixamento = cancelamento) os boatos do cancelamento de Fiji e a entrevista que Renato Rickel concedeu há alguns dias fez com que várias peças de um quebra cabeça mental se encaixassem e o papelão que vem sendo apresentado pela ASP desde São Francisco ficasse mais esclarecido.
O retrocesso dos rankings foi NECESSÁRIO. Vontade dos surfistas e etc. é história para boi dormir. A verdade é que a idéia de rankings da ASP não foi devidamente planejada e principalmente combinada com os principais patrocinadores do esporte. Como defender os pontos de um evento vencido em 2012 se ele não existe em 2013?
Veja bem, a ASP anunciou uma mudança radical de sistema, onde fica inteiramente refém da boa vontade dos patrocinadores de bancar o mesmo evento por diversos anos e isso tudo logo após uma das maiores crises financeiras do globo (2008). Coisa de gênio, não?
É muito provável que algumas dessas grandes marcas com ações nas bolsas de valores mobiliários continuem a existir após a crise financeira, o que terá mudado serão seus proprietários e dirigentes.
Se a ASP acha que os novos sócios da Billa darão os mesmos arregos, estão muito enganados. É muito mais provável que os novos executivos deixem apenas as estrelas patrocinadas, acabem com equipes amadoras pelo mundo e fiquem apenas sugando o mercado com seus produtos, mas sem devolver um tostão ao esporte.
Haverá luz no fim do tubo da ASP? foto: Clark Little |
A crise esta aí é grande e longa. Para sobreviver será preciso se reinventar. A ASP tem pouco tempo, já que não é de hoje que existe a idéia de um circuito alternativo. Os produtos são o surf e o circuito mundial, mas se as estrelas resolverem competir em outro certame, sobre outra bandeira, bye, bye ASP.
Recomendo a leitura de “Eu não sou um Anjo” de Tom Bower, a qualquer dirigente esportivo, mas especialmente para os dirigentes do SURF, e não é só internacional não...a ABRASP tem muito o que aprender com os erros da ASP, ainda mais tendo em vista que teve sob contrato a maior petrolífera da America Latina e com certeza não tirou dela mais do que ela tirou do surf...