No 51º aniversário do campeonato mais tradicional do planeta, o título ficou (pela segunda vez) nas mãos do Bicampeão mundial Mick Fanning, que venceu o careca sanguinolento na final, mesmo com este último de posse de uma nota 10, após mais um de seus "muito+altos+aereos+reverses+sem+mãos+na+borda" voltando literalmente no zero.
O campeonato ficou longe da qualidade de onda prometida pelas sempre otimistas previsões dos patrocinadores e decepcionou muita gente, já que ficou muito abaixo da qualidade de onda apresentada no ano passado. Mas num evento de CT, o que salva sempre é a qualidade do surf apresentado.
A transmissão em Português foi horrenda, com muitos, mas muitos mesmo, reclamando das sandices ditas na cabine de transmissão. Eu não consegui ouvir mais do que 5 minutos em PT, por isso não tecerei maiores comentários.
Os brasileiros infelizmente não foram tão bem quanto o esperado, mas mesmo nas derrotas o nível de surf tupiniquim manteve-se no altíssimo nível de qualidade estabelecido em 2011.
Inclusive, para os imediatistas de plantão, é sempre bom lembrar que antes de Bruninho dos Santos em 2008, amargamos 6 longos anos de jejum em eventos do CT e não será sempre que teremos um verde amarelo no pódium.
Acho até que já mudamos bastante o estigma e a síndrome de vira lata que por anos perseguiu os surfistas destas bandas. Já esta na mente de todos, inclusive dos juizes, que os atletas brasileiros podem bater qualquer um e apesar de alguns garfos o julgamento esta longe de ser tendencioso, patrioticamente falando.
O alvo dos erros arbitrais desta vez recaiu nos jovens. Pupo e Andino sentiram na pele que antiguidade é posto na ASP e mesmo vencendo na agua, perderam nas papeletas.
BRASILEIROS
Fiz questão de rever todas as baterias dos brasileiros antes de publicar este breve relato, que estava pronto desde o dia da final, mas como teve a festa dos polacos (post anterior) e eu queria fazer esta revisitação as baterias segurei a publicação até hoje.
Alejo Muniz - Não sei ao certo o porque, mas o pessoal que adorava o Alejo ano passado, quando quebrava tudo e todos rumo ao top 10 do mundo, este ano, na segunda derrota, já decreta seu encerramento de carreira, que desaprendeu, que tem que evoluir, que isso e que aquilo...pera lá, né gente? Será que é porque ele é Argentino? O moleque esta machucado desde o Pipemasters e vem tentando se recuperar desde então. Repeti em mais de um fórum que as vezes a mente, a confiança, demora mais que o músculo para se recuperar. Além de que, pelo que foi declarado pelo próprio atleta via twitter, o mesmo fazia sessões intensivas de fisioterapia até pouco antes do embarque para Victória. Ou seja, esta longe de estar no rip de 2011. Acho que há muito chão para decretarmos qualquer coisa em 2012, mas é certo que a performance do catarina argentino será inferior a do ano de estréia. Perdeu para Yadin Nicoll por não achar as ondas, apesar da nota overscorada de seu adversário. Mas não vi seu surf descer de nível como muitos acharam. Ele tem que evoluir é a recuperação da lesão.
Heitor Alves - Também esta retornando de lesão, mas acho que esta num estado de recuperação mais evoluído que Alejo. Perdeu para Jadson pela escolha de ondas, em absoluto pelo surf apresentado, vide primeira manobra do cearense na primeira onda desta bateria. Deve evoluir naturalmente no ranking após o Brasil e algumas canhotas.
Miguel Pupo - O jovem Pupo foi garfado. Isso é um fato. Ele virou na última onda contra CJ, com um belo aéreo de manobra inicial e finalizando legal, merecia a nota da virada e os juizes não deram porque não quiseram eliminar um campeão mundial tão cedo no evento. Agora é inevitável analisar que Miguelito cometeu ao menos três erros graves no decorrer de sua bateria. Num mar com séries demoradas, cair na segunda manobra de uma onda com tamanho foi fatal, o mesmo eu diria para as quedas na finalização de duas ondas razoáveis, cujos décimos poderiam decidir o heat a seu favor, independente da decisão arbitral. Falta só a sintonia fina. Pupo ainda nos dará muitas alegrias em 2012. Podem anotar.
Jadson André - É impressionante como um surfista pode fazer uma manobra tão bem e outra tão mal. Jadson enquanto de costas para a onda, consegue bater tão bem quanto qualquer outro, indo sempre na orelha das benditas, com pressão, e muitas vezes colocando a prancha em ângulos pouco aconselhados pelos médicos ortopedistas, contudo, quando é para rasgar, ou dar qualquer manobra de borda o potiguar simplesmente não consegue a mesma eficiência. Parece que ele sempre opta por rasgar no meio da parede, raramente chegando ao lip, tornando a manobra plasticamente feia e ineficiente. Mesmo tendo uma das melhores batidas e floaters do negócio quando se trata de backside, Jadson tem facilmente o arsenal mais fraco de costas para a onda do Tour. Evoluir é necessário. Fez uma bateria brilhante contra o Cearense Voador, mas errou feio na sua bateria da terceira fase contra Owen ao ser tão seletivo. Pegou 2 ondas durante a bateria toda e quando pegou sua segunda onda, caiu na primeira manobra e o australiano magrelo veio na detrás marcando a maior nota do heat. Mesmo com o gringo sendo overscorado (5 e bordoada com 1 batida foi sacanagem) Jadson precisava de pouco no final, mas as séries não vieram...Boa aposta no RJ.
Raoni Monteiro - Perder para o campeão é sempre melhor, ou menos pior. Pois Raoni não só perdeu apenas para o campeão, como perdeu por pouco, dando um belo susto no Mick "Babuino Albino" Fanning. Bateria para rever. Aula de como surfar Bells médio e perfeito. Arrisco dizer que cometeu alguns dos erros de Pupo. Logo após a primeira nota 9 do adversário, na melhor série da bateria, Raoni caiu logo na primeira manobra. Considerando que na onda seguinte o local de Itaúna fez um 9,20 numa onda menor e com menos potencial, fico imaginando o que não seria da bateria caso não ocorresse a queda que mencionei. Pecado mesmo é um atleta do nível de Raoni ter que buscar no próprio bolso recursos para correr o Mundial. Acho que a Abrasp podia criar um relacionamento mais estreito com órgãos governamentais para no futuro subsidiar atletas de nível mundial que por acaso fiquem sem patrocínio. Atletas olímpicos tem este tipo de apoio e todos nós sabemos que não há falta de grana, basta o pessoal roubar menos...
Gabriel Medina - Ele próprio resumiu bem seu erro nas redes sociais, ao se xingar de Burro. Não diria que foi burrice, mas excesso de respeito, ou imaturidade, o que seja, fato é que bastava Gabriel, de posse da prioridade remar na frente de CJ na última onda e veríamos Medina muito mais a frente no ranking. Afirmo que Gabriel perdeu a bateria para CJ, mas CJ não venceu. Pois surf por surf, o local de Maresias mostrou muito mais que o floridiano compeão mundial de 2001. A fúria nos olhos do garoto após a derrota denota como sua gana de vencer continua intacta e este período de vacas magras era esperado por todos, menos por ele, o que entendo ser um belíssimo sinal de amadurecimento. Medina vai levantar muitas sobrancelhas em 2012...vai vendo.
Adriano de Souza - O vice-líder do Mundial de Surf de 2012 perdeu a chance de liderar o certame ao trocar de tática em sua bateria contra Josh Kerr. Os juízes estavam valorizando o surf de manobras bem definidas e a bela linha adotada pelo Guarujaense em Bells (vide primeira onda de Mineiro e Kerr nesta bateria). Mas ao ver que também soltavam notas para os aéreos estratosféricos do australiano (mesmo em ondas mais curtas, não obstante estarmos em Bells, mas vai entender...) resolveu arriscar e se deu mal (parafraseando meu amigo blogueiro Trombonera do trombonedevara) . Devia ter se mantido firme às suas convicções em especial ao surf que vinha dando muito certo no campeonato até ali. De qualquer sorte Mineiro sai da Austrália em posição ainda melhor do que a de 2011 e defenderá seu título da etapa brasileira do mundial com unhas e dentes até porque se gamou no gostinho da liderança do CT e certamente quer mais...se cuida Careca...sua batata esta assando.
FINAIS
Nenhuma surpresa na primeira semi final, com o KS eliminando seu companheiro de equipe Jeremy Flores (alguém viu a cutucada do Mimi no KS via twitter, após ver o careca pegar carona no Jet para trocar de bóia, o francês não perdoou e falou "eu tive que sair nadando, mudaram as regras?"), aliás, surpresa mesmo foi o francês ter chegado até aqui. Deu uma sorte danada na bateria de JJ. Quem disse que vencer o Pipemasters não gera frutos eternos? Na minha opinião a sensação havaiana virou na última onda, mas os critérios estavam rígidos e estabelecidos, Jeremy é mais antigo no tour e na dúvida fica o mais velho. Tipo a nossa CBF, saca?
Agora a segunda semi final foi uma batalha de titãs onde qualquer um podia sair o vencedor. Amigos de infância e competidores ferrenhos, havia muito mais do que um lugar na final em jogo ali. E ambos deram a vida em cada manobra. Só que o dia era de Mick e ninguém venceria ele antes da final.
A final, para muitos foi espetacular, eu não achei tudo isso, mas foi incrível ver o careca sanguinolento perder uma bateria mesmo com um 10 no bolso. Já falamos deste 10...
Mick, em minha opinião tem um dos estilos mais legais de se observar, além de atacar as ondas com uma vontade e força igualável por poucos no circuito atual. Talvez Kong e Rosa atacassem as ondas com mais fúria, mas nenhum dos dois tem o estilo do babuíno albino, tão pouco os títulos mundiais do malandro.
O jeito de rasgar a onda de Parko, por exemplo, é muito mais estiloso, mais clássico. Mick é mais bruto, cru talvez, começando a rasgar antes mesmo de chegar ao lip, como se quisesse impedi-lo de quebrar. Numa onda como Bells, isso conta muito. Pensando agora, Mick merecia em seu cv uma vitória em Sunset.
Enquanto escrevia essas mal traçadas linhas lembrei-me de uma análise dos top 44 da Fluir, onde compararam o careca sanguinolento a Superman e AI a Lex Luthor. Pois penso ao contrário, até porque sou fã de HQ e sei que os vilões, muitas vezes aos olhos do público geral, são grandes heróis, enquanto os verdadeiros salvadores da pátria são párias da sociedade.
Pois acho que a careca do KS revela mais do que parece, a apesar da carinha de bom moço ali de bom mesmo só tem o surf e todos os outros top 32 são os "heróis" tentando "livrar" o mundo do surf das garras do maldito sanguinolento. Obviamente que isto é uma brincadeira, até porque poucos (nenhum?) surfistas foram tão salutares para o esporte quanto Robert Kelly Slater.
Na final viu-se duas táticas bem distintas, KS pouco seletivo e Fanning calmo e escolhendo muito bem suas ondas. KS caiu demais na final, eu diria. Mas não foi por isso que perdeu. Acho que sua onda logo após a nota 10 foi mal jugada e ali ele já viraria a bateria. Mas não seria justo pelo que Mick apresentou não só na final, mas como em todo o evento. E acho ainda que não seria justo com a onda. Presentear o campeão com o título após uma única manobra, sendo que a onda oferece ao menos 300 metros de pista para as mais diversas manobras e uma onda com 3 ou 4 delas é considerada curta.
Não discuto o 10 do careca, até porque o Mick também foi overscorado na sua primeira onda. Mas gostaria de colocar na mesa a seguinte questão. Sem dúvida, esses aéreos do KS em finalizações são impressionantes. Mas não se pode negar que o careca os tem repetido, utilizado a vera para sair de situações complicadas em heats (mesmo na final, antes de acertar, errou um).
Pergunto, se o camarada começa a repetir muito a mesma manobra ele é penalizado com diminuição das notas, não é? Bom, os aéreos do careca são excelentes, fato, mas os do Jadson também o são e perdem muito mais nota que o careca.
Isso sem falar que a bem da verdade KS se jogou do lip em direção a base da onda, "voando" de verdade, poucos centímetros acima da onda e alguns metros para frente dela, apesar dele ter achado que foi um dos mais altos de sua carreira, comentário que me levou as gargalhadas.
Vejam bem, não estou dizendo que ele não voou alto, voou sim. Mas não para CIMA da onda, mas para baixo, do lip a base, como disse. O do Pupo de backside foi mais alto, analisando a prancha SOBRE O LIP, por exemplo, mas o do careca foi muito mais plástico, daí o 10, imagino.
Vitória merecida de Mick.
Acho que era isso. E que venha o Rio.
RESULTADOS:
Rip Curl Pro 2012
1 Mick Fanning (Aus)
2 Kelly Slater (EUA)
3 Jeremy Flores (Fra)
3 Joel Parkinson (Aus)
5 Josh Kerr (Aus)
5 Owen Wright (Aus)
5 Kai Otton (Aus)
5 Jordy Smith (Afr) 9 Adriano de Souza (Bra)
9 John John Florence (Haw)
9 Brett Simpson (EUA)
9 CJ Hobgood (EUA) 13 Raoni Monteiro (Bra)
13 Gabriel Medina (Bra)
13 Jadson André (Bra)
25 Alejo Muniz (Bra)
25 Heitor Alves (Bra)
25 Miguel Pupo (Bra)
Ranking do World Tour 2012 depois de duas etapas
1 Kelly Slater (EUA) - 13.200 pontos
2 Adriano de Souza (Bra) - 12.000 (e chegando...)
3 Taj Burrow (Aus) - 11.750
3 Mick Fanning (Aus) - 11.750
5 Joel Parkinson (Aus) - 11.700
5 Jordy Smith (Afr) - 11.700
5 Josh Kerr (Aus) - 11.700
8 Owen Wright (Aus) - 10.400
9 Jeremy Flores (Fra) - 8.250
10 John John Florence (Haw) - 5.750
13 Heitor Alves (Bra) - 4.500
13 Miguel Pupo (Bra) - 4.500
19 Raoni Monteiro (Bra) - 3.500
25 Gabriel Medina (Bra) - 2.250
25 Jadson André (Bra) - 2.250
32: Alejo Muniz (BRA) - 1.000
O blog ficou meio abandonado este feriadão de Pascoa por conta da despedida de meu irmão Fabio Remuszka daqui do RJ. E vocês sabem a máxima, não é? Festa de Polaco tem que durar no mínimo 3 dias...e foi o que fizemos, com muito surf, churrasco e gargalhadas.
Ele juntamente com uma amiga (Viviane Fernandes) e um amigo (Alexandre Carioca), ambos malucos, iniciam uma louca aventura de bike pelas Américas no mês que vem. (é de bike mesmo...você não leu errado)
A idéia, em princípio é sair de Curitiba, fazer uma "pequena" passagem pela Argentina/Foz do Iguaçu e depois partir rumo ao Centro-Sul de nosso país, com previsão de chegada ao litoral do Espirito Santo em meados de Janeiro/2013, quando a expedição seguirá o litoral até...bom, isso ainda não foi definido, mas eles irão longe, acredite!
O Projeto se chama Ciclocultura Expedição Américas e tem o apoio do Instituto Kreatori para organização, busca de patrocínios e divulgação, além deste que vos escreve, obviamente.
Ainda estamos em busca de apoio para aquisição de câmeras, de preferência com recursos que permitam a gravação em 360º e transmissão on line, de modo que quem for assistir possa interagir com o equipamento e ver coisas que nem mesmo os aventureiros estão observando.
Buscamos também apoio para as bikes, em especial peças de reposição, já que por melhor que seja a bike, um desafio desse jamais será superado sem adversidades técnicas.
Como o Fabio surfa e a Viviane é fotografa profissional, busca-se ainda apoio para pranchas, lycra, parafinas, quilhas, mochilas, enfim, todo o equipamento para a pratica do surf. Já parou para pensar quantos picos esses caras irão encontrar, no Brasa e depois nas Américas Central e Norte?
A medida que a expedição for avançando as novidades serão divulgadas aqui no blog além de todas as mídias que cercam o Instituto Kreatori, ou seja, retorno garatido.
Os interessados em apoiar esta empreitada podem enviar mensagens para qualquer um dos 3 aventureiros, cujos links para o facebook adicionei acima, o próprio instituto Kreatori ou mesmo aqui no SURFOCRACIA.
Desejo do fundo do meu coração uma bela jornada para esses 3 malucos, cuja maior virtude se estampa no sorriso de cada um. A coragem de seguir seu sonho, seu coração e seu ideal.
Começa hoje a noite, dia 03/04 na Austrália, a janela para realização do WCT Bells 2012, em sua 51ª edição, o mais tradicional campeonato de surf do mundo promete, ainda mais depois do gostinho de "quero mais" que a primeira etapa do mundial de 2012 deixou.
Caso não mudem a chave de baterias estas serão as batalhas da primeira fase:
1 - JORDY SMITH X KIEREN PERROW X FRED P;
2 - OWEN WRIGHT X BEDE DURBIDGE X PAT GUDAUSKAS;
3 - ADRIANO DE SOUZA X RAONI MONTEIRO X TAYLOR KNOX;
4 - JOEL PARKO X ADAM MELLING X KAI OTTON;
5 - TAJ BURROW X KOLOHE ANDINO X WCARD;
6 - KELLY SLATER X BRETT SIMPSON X WCARD;
7 - JULIAN WILSON X JEREMY FLORES X YADIN NICOLL;
8 - GABRIEL MEDINA X MICK FANNING X JADSON ANDRÉ;
9 - JOSH KERR X ADRIAN BUCHAN X TRAVIS LOGIE;
10 - MICHEL BOUREZ X DAMIEN HOBGOOD X CJ HOBGOOD;
11 - ALEJO MUNIZ X JJ FLORENCE X TIAGO PIRES;
12 - HEITOR ALVES X MIGUEL PUPO X MATT WILKINSON;
A previsão, segundo o site da ASP é "nada menos que excelente" e a exemplo do evento do ano passado, devemos ter boas ondas para os competidores mostrarem o que sabem.
Adriano de Souza é meu favorito na terceira da primeira fase, embora nada impeça Raoni e TK de se levantarem e surpreenderem o atual segundo colocado no ranking.
Medina e Jadson tem uma parada indigesta na oitava da fase. Mick vem que vem, como diria Galvão, pois esta mordido da prematura derrota na primeira etapa e esta em plena forma, mas Gabriel também esta a fim e como mostra o site do campeonato, já esta treinando nas ondas da região de Victoria tem um tempo. http://live.ripcurl.com/index.php?aid=2077
Alejo Muniz e Tiago Pires tem outra pedreira na penúltima da fase. Florence vem de uma grande vitória em Margaret River, mas Alejo estava contando os dias para acabar sua fisio e se mandar para Bells, por isso aposto minhas fichas no sangue no olho do catarina argentino.
E na última da fase, outros dois brazzos se encontram, Heitor e Miguel encaram Matt Wilko. Será um show de surf de costas para a onda. Aposto em Heitor nesta, já tem experiência e grandes apresentações em Bells no currículo.
Lembrando que o evento pode começar hoje mesmo, dia 02 no Brasa, mas dia 03 em Aus.
Duas cutucadas fortes são o suficiente para faze-lo abrir os olhos e se levantar. Sua confusão é evidente e o interlocutor apressa-se para ajuda-lo a com o braço estendido.
- Olá, tudo bem contigo?
Nunca ouvira aquela voz antes, e ainda não conseguindo se localizar, balançou a cabeça afirmativamente enquanto tentava fazer com que seus olhos se acostumassem à claridade.
Quando finalmente conseguiu enxergar percebeu que estava no topo de um morro, com campos verdes as suas costas, uma bela floresta a sua esquerda, um vilarejo à direita e uma belíssima praia à frente, uns 300 metros descendo a ladeira. Estranhou, contudo, o silencio.
O dia era claro, sol bem no alto, poucas nuvens e uma leve brisa em direção ao oceano. Deveria estar suando, mas o clima era estranhamente perfeito, não sentia calor ou frio.
- É bem estranha a sensação, não?
Ele tinha esquecido do desconhecido que o acordara. Um rapaz alto e forte, com duas pranchas de surf sobre os braços e um sorriso sincero no rosto. Olhava para ele com curiosidade.
Tudo era muito estranho, um silencio ensurdecedor em sua cabeça, sem qualquer lembrança de como havia chegado ali, aliás, mal lembrava quem ele era.
Parece que passaram-se anos sem um pensamento claro. Sem ouvir dezenas de vozes em sua cabeça e ainda estava se acostumando com a velocidade do próprio pensamento.
- E aí, vamos para a praia? Perguntou o rapaz lhe estendendo uma das pranchas.
Pegando-a logo a reconheceu. Parecia que nunca tinha saído do lado dela. A prancha se encaixou como uma luva embaixo de seus braços.
- Vamos.
Respondeu sem muita certeza do que queria ou poderia fazer ali.
- Só eu venho surfar nesta praia. Poucos vêem aqui. Dizem que a onda é "esquisita". Eu acho ela demais, mas sinto falta de companhia as vezes. Hoje tem uns 6 pés.
Mal o rapaz acabou de falar os dois chegaram a praia juntamente com uma série de umas 4 ondas, uma mais perfeita que a outra. Quando a primeira massa de agua atingiu a bancada ambos presenciaram um expresso assassino para a direita, 4 ou 5 sessões bem distintas, intercalando tubos e paredes velozes "bem em pé" sobre um fundo que parecia mais raso que o aconselhável, sem um segundo de alívio, do drop até a baia onde a onda morria.
- Eles me falaram que você gostaria deste pico. Disse o rapaz.
- Eles quem? Apressou-se a perguntar.
- O pessoal do vilarejo.
Mesmo sem entender quase nada, se sentiu compelido a cair no mar com seu jovem e desconhecido amigo. Sua prancha parecia a mesma de sempre. Segura, fiel, os braços pareciam mais poderosos que nunca. A mente rápida e clara e ondas perfeitas. Realmente, ele gostou do lugar, da onda e do desafio.
Enquanto remavam o jovem dava algumas dicas. Na realidade falava pelos cotovelos. Ele já não o escutava mais desde a primeira onda furada. Já estava captando as energias do lugar, percebendo as nuances da onda enquanto ela se dobrava em velocidade assustadora pela bancada. O jovem não havia percebido, mas ele já conversava com a onda mentalmente, e talvez já a conhecesse melhor que o frequentador do pico.
Sua memória sobre o surf, o seu surf, começou a voltar no momento em que pisou na agua. Cristalina como poucas vezes havia visto...
Ele deixou seu amigo ir na primeira. Lembrou como havia feito isso poucas vezes e sorriu pela primeira vez. Deixou as duas seguintes passarem, queria uma maior e queria um expectador sem linhas na frente para observa-lo.
Remou com segurança, dropou propositalmente atrasado e em menos de um segundo estava em pé, de braços relaxados num salão azul. Passou a primeira sessão e percebeu que a onda é porrada ou porrada e passou por seu novo amigo a 200 por hora para se projetar ao lip destruindo-o por completo.
Retornando ao line up, viu que seu amigo de sotaque yankee era realmente muito bom e vinha destruindo outra bela onda.
Após um par de tubos para cada um ambos se encontraram no outside.
- Desde que cheguei aqui eu surfo esta onda sozinho.
- Ela é fenomenal! Respondeu lembrando que sequer sabia o nome de seu novo amigo.
- Eu estava te esperando. Me falaram que você iria me dar uma força...
- Te dar uma força? Quem é você?
- Me falaram do que você fez, do que optou por passar em busca da evolução espiritual e em como você cumpriu sua missão. Me pediram que eu o recepcionasse. Disseram que somos parecidos e conversando comigo você se adaptaria mais rapidamente.
Ouvindo aquelas palavras, suavemente sua mente começou a rememorar tudo o que se passou. Seus pais, seu irmão, sua família, sua infância, sua juventude, suas vitórias, seus erros, a confusão mental, as vozes, a esquizofrenia e a cruz carregada.
- Me pediram para lhe dar as boas vindas. É sempre especial a chegada de um espirito de luz aqui e me senti honrado em recepciona-lo. Mas ainda não sei no que você pode me dar uma força, no surf acho que não é, né?
Michael Peterson olhou o jovem rapaz por entre suas franjas e coçou o bigode com um sorriso maroto, disparando em seguida para o outside. O jovem, que já se chamou Andy Irons, logo percebeu que não devia ter cutucado aquela onça com uma vara tão curta...
Após uma sessão épica, ele disse: "Rapaz...calou minha boca....Um dia ainda vou te apresentar um careca que conheci..."
A tristeza da morte não pode encobrir o fato dela se tratar de uma passagem que todos enfrentaremos no caminho da evolução e de que o destino único de todos é a felicidade.
obs: texto inspirado numa coluna do Júlio Adler publicado na revista Hardcore de .../.... (tão logo ache a revista em casa coloco o mês e o título da publicação, mas basicamente relata a chegada de AI no outro andar...)
p.s: todas as fotos foram obtidas digitando Michael Peterson no google, não localizei os autores originais, salvo aquelas que os possuem diretamente na imagem.