quinta-feira, 19 de maio de 2011

O INICIO

Estava tudo certo. Tudo pago, tudo agendado, pranchas feitas, roupas compradas, botinha, leashes novos, capa pra várias pranchas.
Férias pedidas e recebidas do trampo,enfim, só faltava embarcar.
Depois de quase 6 meses de planejamento, as esperanças e desejos de finalmente conhecer um paraíso de surf com ondas mais que perfeitas estavam ao alcance das mãos...o embarque era 11/05, destino, Sumatra.

 Primeiro surf dos 33 anos, macumba, 5´11, fish, triquilha. um metrão mexido, 01/11/2010 - Foto Kim Adam


Dia 17/04, um metro de onda, tubular com algumas abrindo e soltando baforadinhas. Grumari, RJ,
pouca gente na agua.
Assisti a corrida de F-1 na China e zarpei da Lagoa (casa da patroa) as 5 e meia, sem transito algum a distancia foi percorrida rapidamente.

Chegando lá, fiquei aproximadamente uma hora observando as valas, cheguei a ir duas vezes até o canto direito para me certificar que realmente o pico que escolhi era o melhor.

Em frente à curva, na saída de um riozinho, 3 caras dividiam séries de um metro abrindo para os dois lados,
quase sem vento e sem correnteza.

Estacionei o carro ao lado do quiosque do Botafogo, pois achei que a vala ali em frente poderia melhorar mais no meio da manhã.

Atravessei a vala toda, caminhando para a esquerda da praia, caindo no final das direitas, meu principal objetivo naquele inicio de manhã.

Dos 3 caras que dividiam o pico, um era realmente mto bom, um goofy que estava tentando alguns aéreos nas esquerdas, que achei que estavam fechando mais. Logo quando estava chegando no pico ele passou por mim de grab rail numa linda direita.

Não podia estar mais feliz, altas, com pouca gente. Quem mora no Rio sabe que isso é coisa rara e aquilo podia mudar mto rapidamente, com o crowd surgindo literalmente do nada.
Rapidamente me posicionei e peguei uma bela direita, um pouco menor do que a do cara, mas ainda assim bem em pé, ganhei velocidade na primeira sessão para acertar o lip na segunda, foi uma bela manobra, mas a prancha entrou um pouco de borda na volta e acabei caindo. Uma pena, havia uma junçãozinha logo a frente, apetitosa.

Será na próxima!

Uma semana antes, na mesma praia. 6'2 tri


Demoro um pouco para escolher, deixo passar algumas que vejo por trás que abriram inteiras.
Vejo 2 ou 3 caras entrando com o rabo do olho, enquanto procuro a próxima.

6'2 quad



Um cara que já vejo em Grumari há mto tempo senta do meu lado, já coroa, mas sei que pega umas ondas.

Ele começa a remar na mesma que escolhi, tenho que falar, "oh a direitinha, ó a direitinha ae amigo...",
a remada dele faz a onda "chorar" e a primeira sessão que ia escorregar devagar desaba, fazendo com que eu tenha que mudar a trajetória para acertar o lip logo a li, senão não conseguiria passar a sessão.

A prancha esta no pé, estou treinando para a viagem há tempos, cavo bem e subo reto, consigo trepar na espuma e passar na batida,mas na volta, a prancha novamente entra um pouco de borda,  não estava tão em pé qto eu achava, a velocidade é grande, a prancha para, o pé e a parte de baixo da perna ficam, o corpo, juntamente com o joelho e coxa continuam.

Não sei se ouvi um barulho ou apenas o senti dentro do corpo, a dor é como se mil agulhas te cutucassem ao mesmo tempo, caio e imediatamente a onda faz o favor de me por pra rodar, não sei onde é pra cima ou pra baixo, estou de olhos fechados e rodando, as mãos, instintivamente correm para o joelho.

A sensação ao toque é horrível, sinto o joelho esquerdo (pé da frente na prancha) completamente deslocado para a esquerda.
Durante a vaca, não sei se sou eu fazendo força, ou se é involuntário, mas o joelho volta para o lugar,  a dor aumenta 1000%.

A mente é realmente uma coisa incrivelmente rápida. Na hora, ainda durante a vaca, embaixo d´água, já penso comigo, "a trip já era, tenho que arranjar alguém pra ir no lugar e não perder $$$ no cancelamento", "to fudido, o carro tá longe, vou demorar uma cara pra chegar lá e não sei como vou fazer pra dirigir", entre outros pensamentos com palavras do extremo baixo calão...

Ilha do Mel, 1999, DIA DAS MÃES. 6'6, round pin, quatro canaletas. Foto. Marcos Greca


Tempos bem ruins começam...trabalhar a cabeça e pensar positivo contam mto nessas horas. Só tenho a agradecer as pessoas que amo e que estão do meu lado, mas na real, só eu posso me ajudar e sei disso.

Depois do susto, já sabendo que a trip foi por água a baixo, o pensamento mais animador era " se acontecesse durante a trip, eu teria 13 horas de barco até a civilização mais próxima, onde eu teria que explicar pra um japinha indonesiano onde tava doendo pra caralho, antes de encarar 26 horas de voo até em casa.

Passo 3 semanas "internado" na casa de meus sogros, no mais puro tratamento 5 estrelas.
Moro sozinho há mto tempo e já me maltrato há mto tempo, minha geladeira nunca tem nada, enquanto lá na casa da patroa é vida de rei, comendo o dia inteiro, a impressão que tenho é que sairei de lá direto para o abate.

Quem já machucou o joelho, sabe como é chato perder 80% de sua locomoção, especialmente qdo sua outra perna já não esta aquelas coisas.
Considerando que estou sem fazer nada, e que a dor já esta controlada, arrisco começar a ir para a fisioterapia com meu carro, acerto a mudança de marcha no tempo e consigo dirigir sem mtos problemas.

O WT aporta na cidade. Pra quem gosta de surf é até pecado pensar em não assistir ao vivo da praia.

Mesmo fudido, dirijo todos os dias cedinho da lagoa para a barra.
Já no segundo dia de espera por ondas, ouço a conversa de dois caras na mesa ao lado. Pelo sotaque de um deles, deduzo que vieram do sul, sou de Curitiba e puxo papo.

Vó Maria, 1999, dia das mães. mesma 6'6. Foto: Marcos Greca


Um deles é radialista em Imbituba e esta ali pra cobrir o evento, o outro, surfista, veio para comentar.
Conversa vai, conversa vem, me convidam para ajuda-los na cobertura, me descolam uma credencial e começo a literalmente trabalhar numa parada que sempre sonhei, surf, o esporte que mais amo na vida.

Os dois primeiros dias na sala de imprensa são de total deslumbramento.

Sou estudioso de surf.
Há pelo menos 20 anos tenho comprado tudo que se refere a isso, revistas, livros, filmes e lido e visto tudo ao menos umas 3 vezes cada.
Sei de cor todos os campeões do mundo e uma infinidade de curiosidades inúteis no dia a dia, mas que naquele mundo e em determinados momentos, são informações que podem valer ouro.

Sempre pensei em fazer jornalismo, mais como hobbie, mas depois desta experiência, observando o que é feito, como é feito e principalmente comparando com o que eu faço e como faço, decidi arriscar, e quem sabe até fazer a faculdade.

O primeiro passo é este blog, que atualizarei sempre que possível, voltado quase que exclusivamente para o surf competição.

Quase ninguém vai ler, mas quem o fizer, espero que goste tanto quanto eu estou gostando de escrever.

2 comentários:

  1. Recentemente passei um tempo tb na casa dos sogros. Eu nao estava em recuperaçao, mas a casa deles é bem isolada no campo e nao tem muito o que se fazer a nao ser comer. E durante esse tempo que fiquei la eu estava com um sentimento estranho, nao sabia o que era, e depois de ler seu relato eu entendi o que é que eu estava sentindo!! hahah

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  2. e não é bro?
    foda.
    sai dos 104 para 114 tão rápido que nem senti.
    hoje já voltei para os 102/103, mas para melhorar o joelho pelo menos mais 1 arroba tem que ser perdida...
    abção

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