IMPRESSIONANTE
Qualquer outra expressão não chega perto do que vimos ontem na praia da Vila em Imbituba, sul de Sta. Catarina.
Ondas com tamanho, excelente formação e 12 dos melhores surfistas do mundo sedentos por 40 mil dólares e mais importante 6.500 pontos no World Tour, resultado, show, não só de surf não, show da vida. Duvido que alguém presente ao evento não tenha se emocionado com o choro contido do campeão ou do choro incontrolável do pai do campeão, ou da humildade do segundo colocado...bom vamos aos fatos.
O dia começou com as baterias do No Losers Rounds. Essas baterias costumam sem bem animadas, visto que não há perdedores. Mas as primeiras baterias do dia não chegaram aos pés do que estava por vir. Não sei se era o mar que ainda não havia acordado, só sei que este foi um round morno.
Por isso, se me permitem começarei direto da repescagem pré quartas.
Na primeira um duelo daqueles. Raoni X Hizunome. Raoni começou na frente, surfando forte as boas esquerdas que apareceram, mas Hizu não se deu por vencido e foi melhorando suas notas até que achou uma grande, da série onde desferiu uma das melhores primeiras manobras do evento, uma senhora pancada saindo mta agua, continuou surfando na linha e no meio da onda acertou um lindo lay back para depois finalizar a onda, 9 e tal pro cara. Raoni tinha torcida e tudo, mas não achou mais nada do nivel da onda de Hizu. Foi lindo e emocionante a mulher e filho do Hizu indo encontra-lo na beira d´agua.
Na segunda uma disputa mto equilibrada entre Ricardo dos Santos e Mason Ho. Mason levou a melhor numa bateria de poucas ondas. O haviano surfou 4 e o brasileiro duas. Ricardo surfou bem o evento todo, esta bem assessorado com o pessoal da Aprimoresurf e com patrocínio forte, imagino que depois de uma pequena sintonia fina deve ser figura constante dos pódiuns do mundial daqui pra frente. Nas baterias que vi do Ricardo aqui na Vila, na minha opinião, ele precisa melhorar um pouco a finalização de suas ondas. Voa com grande facilidade, e já tem um belo estilo, além de ser atirado, tem tudo para se dar bem, um pouco de sorte tbém ajuda. Falo mais do Mason daqui a pouco.
Na terceira um show de surf apresentado por dois dos novos expoentes do surf mundial (não, Brasil já ficou pequeno pra esses caras). Todos queriam ver essa batera, gringos especialmente.
Gabriel já vinha surfando mto durante todo o evento, mas foi aqui sua arrancada, explico. Achei que o título desta etapa esta entre Gabriel, Miguel e Damien (Yadin e Leo Neves tbém, mas não chegaram ao último dia), e como os dois brasileiros calharam de se encontrar antes das quartas, imaginei que o vencedor deste confronto faria a final.
Aliás, foi uma final antecipada. Pupo encanta a todos com sua mescla de estilo polido, com aéreos controlados e Gabriel é uma espoleta, que virará uma bomba na cabeça dos demais competidores do circuito.
Gabriel falou que surfou como se estivesse no free surf e pareceu isso mesmo, acertou um 9,5, mas tinha uma segunda fraca, como Miguel tinha um 6 e pouco como melhor, se fizesse uma onda forte poderia virar. Foi o que precisou para prender o público até o final.
Na última bateria da repescagem o portoriquenho Dylan Graves eliminou o sul africano Royden Bryson. Royden para mim era favorito nesta, mas arriscou demais, esperou demais e perdeu. Dylan foi eficiente com um 6 e pouco e um 7 baixo levou com tranquilidade. Royden saiu bem chateado da agua, mas pelo que fez, devia saber já o resultado que esperava. Neste nível de surf, fazer uma bateria mais ou menos é pedir para perder. Pelo menos acertou um belo lay back, mas como a onda não foi longa e ele caiu logo depois, não adiantou nada para sua nota.
QUARTAS
Até para vermos que o No Losers Round influencia mto o evento, mesmo não perdendo ninguém, graças aos resultados daquele round, tivemos dois confrontos brasileiros na repescagem, sobrando na quartas apenas dois representantes. Se tivéssemos ido melhor no round 4 (no losers) poderíamos ter mais representantes nesta fase.
Na primeira batera o primeiro erro de julgamento, na minha opinião. Tom Whitaker começou bem, onda grande, duas rasgadas fortes (mas idênticas) e a onda morre, ele fica fazendo um feijão com arroz (rasgadinhas pra dentro e mata barata) até a onda conectar no inside, acerta mais duas bolachas e 8,93 pra ele! Logo de cara, uma nota tão alta? Pensei comigo, terá onda melhor que essa pra frente e eles vão ter que segurar o rojão. Não deu outra, a onda nota 8,17 de Tom foi mto melhor que a primeira, foi surfada com mais velocidade (não precisou de feijão com arroz) com maior variedade de manobras e a finalização foi melhor.
Da mesma forma a onda boa do Hizu foi achatada, ela estava no mínimo no mesmo nível da segunda do Tom e o 7 alto prejudicou Hizu sim, pois o surfista fez o seu melhor e como a nota foi atachada acabou precisando de outra melhor ainda para virar. Se sua nota fosse correta, ele poderia ter feito uma onda 8,7 por exemplo e ficar precisando de um 7 e pouco para virar.
Para sorte dos juizes Hizu não achou nada, mas acho que essas coisas tem que ser levantadas e consideradas. Conversei com os juizes neste evento, não acredito em nenhum tipo de preferência, acredito sim em erro humano, simples, se empolgaram e acontece.
Na segunda o insosso Gabe Kling eliminou o espevitado havaiano Mason Ho. Gabe faz o feijão com arroz dele desde o inicio (nem uma farofinha para encrementar o surf ele tenta, lamentável), mas como as ondas estavam grandes e tinha um vento, suas batidinhas até que chamavam a atenção e nisso ele ia fazendo suas médias. Mason vinha em grande atuação, acertando boas manobras no crítico da onda logo no inicio dela, mas acabava caindo no meio da onda e pouco pode somar para fazer frente ao aluno mediano do WT.
Na terceira, o que poderia ser a melhor bateria das quartas, talvez do evento, acabou se tornando um show solo de Medina. E que show!!! Pobre Damien, nem teve tempo para reagir, pareciam aquelas lutas do Mike Tyson. Esperava-se meses para lutas que acabavam em poucos segundos. Foi mais ou menos o que rolou.
Medina, logo na primeira onda, acerta um aéreo absurdo, alto, controlado, perfeito, numa onda grande. Voltou, acenou para o público e começou a fazer lindas linhas na onda, com movimentos variados e precisos. 10 pra ele. Logo apos fez um 5,5 e já deixou Damien em combinação.
Damien começou mal, mas logo achou um 8 e pouco, para recoloca-lo na briga.
Era o que Tyson, digo, Medina, precisava para jogar o adversário nas cordas e soca-lo até cair. Com outra onda impressionante Gabriel arranca um 9 alto dos juizes e fecha o caixão de Hobgood. Arrisco dizer que Medina venceu o evento aqui, nesta bateria. Vencendo Miguel e Damien em sequência, de fato, não havia mais ninguém capaz de para-lo.
Na última das quartas Dylan perdeu para Richard Christie. Richard me chamou a atenção neste evento. No sábado eliminou Jay Quinn, conterrâneo mais experiente, surfando no critério, forte e veloz. Dylan surfou bem, rabiscou bem as longas esquerdas, mas Christie parecia mais afim, impressionou mais e levou, comemorando o resultado após ouvir a última onda de Dylan.
SEMIS
Na primeira, Tom fez o que todos devem fazer com Gabe, vence-lo sem grandes sustos. Gabe, novamente no feijão com arroz, foi fazendo nota. Tom, cobra criada, esperou uma boa, e logo de cara fez um 7,7, nota acima da média de Gabe, ae o negócio era achar uma segunda boa.
Achou, mas neste caso achei que os juizes achataram um pouco sua nota, o que acabou tornando a bateria emocionante ate o fim, visto que Kling precisava de pouco para virar e quase virou na última, mas terceiro tá loco de bom pra ele.
Na segunda o show de Medina não havia acabado. Depois daquela apresentação fenomenal nas quartas fiquei até preocupado com o fenomeno de se chegar ao ápice da performance mto cedo, vide KS nas quartas no Tahiti ano passado, Mineiro nas quartas em Bells este ano entre outros vários exemplos.
Mas não, na realidade Medina esta só começando e fez a bateria mais espetacular que já vi. 4 NOTAS 9 EM MENOS DE 30 MIN.
Detalhe, isso tudo num mar com tamanho, frio, ondas longas, ou seja, tudo para complicar.
Richard até achou um 8 e pouco, surfando mto bem, suas segunda e terceira manobras foram sensacionais, mas e daí? Para ganhar do Golden Boy tem que ter duas dessas no mínimo.
FINAL
Um espetáculo, nada mais a ser dito.
Gabriel me fez acertar meu bolão e não só isso, confirmou minha previsão de uma nota dez com um aéreo super man no inicio (acho que foi na semi).
Tom não teve qualquer chance. O surf de Medina das quartas em diante estava num nivel de WT TOP 5.
É dificil não se empolgar vendo o que vimos. Mas esse menino, assim como Miguel, estão traçando trilhos diferentes, reconhecidos desde já, estão destinados a serem tops, e TOP 5 é uma realidade.
Parabéns ao Gabriel e sua família. Deram um show, ele de surf e a família de humildade e união.
abç
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